quarta-feira, 13 de abril de 2011

MISÉRIA DA CONDIÇÃO HUMANA E A APOSTA EM DEUS NA FILOSOFIA DE BLAISE PASCAL (em breve o texto)

Orient (a): Prof. MSc. Ubiratane Rodrigues.
Paulo Thiago Alves Sousa
Graduando em Filosofia pela UFMA
pthiago21@hotmail.com

Este trabalho tem como fundo de sua investigação a filosofia do pensador francês, que se concentra no século XVII, Blaise Pascal (1623-1662), construindo uma análise expositiva, principalmente no tratante, ao que podemos salientar como o “fundo existencialista” dos seus pensamentos, onde configura-se a presença da existência humana compreendida na sua situação concreta e histórica com o mundo, com seus semelhantes e com Deus. Para cumprir esse itinerário expositivo vamos nos remeter a leitura clássica pascaliana contida na obra Pensées (Pensamentos) aonde focaremos em dois pontos: primeiro a situação do paradoxo da existência humana situada como um ser em grandeza, constituído pela sua capacidade e dignidade de pensamento, que faz o humano diferente de todos os outros seres, e também a natureza decadente caracterizada na miséria humana, enquanto seres instáveis e incertos, que nos torna incapazes de saber com certeza e ignorar, inclusive a absoluta existência de Deus. No entanto, Pascal aponta que a verdadeira meta da existência humana está em Deus e esta meta é efetivada em uma religião que tenha conhecido a grandeza e pequenez da existência humana, ou seja, a religião cristã. O segundo ponto de nossa temática diz respeito a “aposta em Deus”, da qual Pascal, dialogando com um interlocutor cético e imaginário, anuncia que temos que escolher entre a existência ou não de Deus, apontando assim que é racional escolher Deus, já que, escolhendo Deus pode-se vencer tudo e não perder nada. Dessa forma, a fé que surge no coração e é dom de Deus vem ao lado da razão para mostrar que essa fé que supera a razão não é contrario à natureza humana, é sim, fé que vem ao encontro da miséria humana, explicando-a e resolvendo-a.

Palavras-chave: Pascal, Grandeza, Miséria, Razão, Fé,  





sábado, 26 de março de 2011

O TEMPO E A MORTE EM EMMANUEL LEVINAS (em breve o texto)

Paulo Thiago Alves Sousa
Graduando em Filosofia pela UFMA
pthiago21@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho tem como intuito apresentar uma análise acerca do tempo e da morte a partir do filósofo franco-lituano Emmanuel Levinas, onde o mesmo aponta estes dois conceitos como planos de perspectivas relacionados com a Alteridade. Decerto, para que Levinas tome parte da tematização entre “tempo”, “morte” e “outro”, é preciso revisitar, mesmo que brevemente, a filosofia do filósofo alemão M. Heidegger, onde estar denominada a relação enfática e incontornável entre ser e tempo. Desta relação depreende-se que a colocação do sentido do que é o ser determina-se pelo caráter temporal desvinculado de uma equivalência metafísica entre ser e eternidade, fato em Heidegger, de uma ontologia fundamental que prediz uma investigação no concreto da facticidade, partindo de um ente privilegiado, ou do ente que compreende o ser, ou seja, o próprio ser humano, expressado na forma pouco traduzível do termo heideggeriano Dasein (ser-ai). Para Heidegger, a vida humana é o lócus onde se deve partir a busca da “temporalidade do ser”, o modo temporal da existência captado no Dasein enquanto existente caracterizado pela sua finitude, pela sua mortalidade, o que Heidegger denominará de ser-para-a-morte, algo para o qual nós nos projetamos. No entanto, seguindo a trilha do pensamento de Levinas, apontaremos que o tempo não constitui o horizonte ontológico do “ser do ente”, mas caracteriza-se por compor o “para além do ser” como relação do pensamento com o “outro”, dessa forma visando alcançar este relacionamento com a alteridade, anunciaremos a “morte” caracterizada como projeção em direção com o “outro”, conferindo o caráter de uma libertação provisória da “solidão” do Mesmo. Assim, partindo do brevemente exposto, utilizando da forma escrita e dialogada a seguinte exposição procura compreende de que forma o tempo e a morte na possibilidade da alteridade, constituem sua porta de saída do projeto ontológico.

Palavras-chave: Ser, Tempo, Morte, Outro,

sábado, 5 de março de 2011

ADEUS BENEDITO NUNES! ADEUS PROFESSOR! (Publicado no Jornal Pequeno-06/04/2011)


No último domingo (28/03/2011) a filosofia deu adeus inesperado ao filósofo e cidadão paraense Benedito Nunes, uma das figuras de pensamento retumbante e ávido que já percorrera as múltiplas veredas do conhecimento filosófico em solo brasileiro. A impressionante sagacidade de seus escritos onde a filosofia e a poesia anunciam ímpeto e a riqueza de seu discurso, procura, como um excelente leitor do filosofar de Heidegger, auscultar o ser, essencialidade que hora se encobre e hora se revela e do qual os filósofos e poetas são vigilantes, protetores e amantes dedicados e incansáveis, assistidos na morada da linguagem.
Indo da filosofia à poética e da poética à filosofia, Benedito Nunes fora filósofo-poeta, e apontava o caminho de sua criação na força duplicada e interconectada, sendo uma composição entre os ceticismos dos poetas e significação metafórica das palavras pelos filósofos, como apontaria na obra “Hermenêutica e Poesia” (1999). Assim o que percebemos amplamente difundido em seus pensamentos será a possibilidade incomensurável da poética na abertura e passagem do “dizer”, em sua revelação multiplicativa, porém inefável.
Benedito Nunes fora defensor de que algo permanece indizível na poética, que transmuta o conhecimento da ciência e da “filosofia”, aonde estas buscam aprofundar e esgotar o mundo, aquela abre uma nova fenda virgem de interpretação e criação do mundo.
Mas percebe-se que o canto do poeta e a metáfora do filósofo, cada vez mais perdem lugar quando se ensina e quando se aprende e assim, pressente-se um desfalecimento para empreender a busca, algo jaz, pois as formas embrutecidas, normativas e burocratizadas tomam um espaço cada vez mais relevante na base de formação dos “novos intelectuais”. Então, em que reside a propriedade e competência da existência e do conhecimento a partir destes “novos intelectuais” que os nossos institutos de ensino superiores cada ano diplomam?
Em muito se há denunciado, certo conformismo da geração vigente e a tese que inflecte diz respeito a falta de criatividade e descompromisso com bases, digamos, mais, filosóficas, apontadas como improváveis, ou muitas vezes delirantes. O certo grau de competência dos “novos pensadores” é assomado ao quanto são capazes de serem fiéis as leis e a manuais “esfacelados” com o conhecimento necessário para se apreender, o resto, ou seja, o fundamento que estrutura tal ou tais discursos, são enfadadas conjecturas, que ficam ao trabalho daqueles que “filosofam”, ou que suspeitam que exista algo além do céu e a terra” que até mesmo a nossa vã filosofia não ousa penetrar.
Algum estudante, outro dia saltou de sua cadeira e disse com toda veemência: “o que eu faço é ciência, isso sim tem compromisso com o real, o resto pode jogar no lixo”. Seria demasiado irresponsável de nossa parte concordar com essa opinião exaltada e infundada. Até mesmo a ciência e o cientista para construir-se verdadeiro e responsável devem tanger seus próprios fundamentos e em alguns casos ultrapassar seus limites, apesar de já ai é desconstruir suas bases e dissolver, ainda o esforço é justificável. Mas deve ressaltar que existe muita ciência e cientistas, sejam sociais ou naturais, que devem ser levados a uma lata de lixo, pois as suas suposições são mais irreais, ou ainda pior, são mais reais do que a realidade do vivido.
Na própria filosofia percebe-se copular este afã digno de uma ciência, todo seu método e perspicácia seriam frutos de uma conjuntura logicamente corroborada pela linguagem analítica, assim, riqueza da filosofia, riqueza da ciência. Certa vez, um professor muito versado na filosofia analítica, no intuito de aconselhar seus alunos acerca da seriedade do saber filosófico, reverberou: “A filosofia pretende-se séria, não é literatura e poesia, estas últimas são frutos do fantasioso e do imaginativo e nada pode constar dentro de discurso filosófico que se pretende sério”. Se escuta de tudo nesse mundo, principalmente de nossos professores, e não foi o número de alunos que perseguiram as lições de analítica e muitos até hoje não conseguem formar uma consciência viva do que seja a própria filosofia.
De fato, se concorda que a filosofia e o filosofar são construtos e conseqüentes vivos da sistematicidade e radicalidade, mas talvez o professor não constatou, no edifício de sua sapiência lógica, que existe muitas poesias que articulam mais sabedoria do que massudos tratados filosóficos ou científicos. Poderia seguindo a nova tendência positivada se deixar de lado em um canto empoeirado, Shopenhauer, Kierkegaard, Nietzsche, Sartre, Heidegger, Camus, Merleau-Ponty, entre muitos outros filósofos que carregam nas suas veredas filosofantes o élan da intuição poética.
Tanto para o aluno e para o professor só competem e satisfaz aprender o suficiente e produzir o suficiente, para sobreviverem nessa “selva capitalista”, então se ensina com “segurança” e se aprende que não se deve ser ferido. “Siga o manual, decore a lei e o sistema, reproduza o cálculo, aplique o paradigma, tudo vai dá certo. Amém!” O que decorre desta aplicatividade técnica é um aneurisma no centro das atividades intelectuais, culturais, sociais, éticas, estão tão cheios de si que são tão pobres ao mesmo tempo, parafraseando o filosofo Levinas: “possuem riquezas que são fontes de preocupação”.
Mas ainda pior desta atitude imitativa e conformada, são as conseqüências, ou seja, se ler pouco, se escreve pouco ou quase nada e estas duas modalidades são mais tortuosas do que o mais exaustivo dos trabalhos físicos. Então, o que se ensina? E o que se aprende? E como tudo isso passa a constituir vivido? O que falta para quem ensina e quem aprende? Mas o que farão então os “novos intelectuais” dessas terras “tupiniquins” se não lêem e não escrevem? Será que sabem articular o discurso? Será que saberão desenvolver a educação, a cultura, as leis, ou vão só imitar? “São somente perguntas, o tempo se encarregará”!
Poucos são os verdadeiros professores que transformam o conhecimento em uma arma potente de reflexão e entusiasmo, insuflam o discurso de forma poética e filosófica, são poucos os professores que são amantes e sedutores e deixarão contribuições tão prolíficas como Benedito Nunes que apesar de descansado em sua calma e sabedoria, fora um instigador crítico desta conjuntura que sobrevive a intelectualidade das Universidades, em uma entrevista concedida a revista CULT, diria:
Encontramos, então, uma multidão comprimida em sala de aula e pouco participativa. Some-se a isso o meio de leitura, que mudou. Hoje, ocorre uma diversificação real da leitura, cada um está lendo algo diferente, falta foco, falta discussão aprofundada. Devido a essa lacuna, há o predomínio de textos mais diretos, de caráter informativo, voltados para as multidões, de resenhas em vez de críticas.
Benedito Nunes nos ensina na sua simplicidade a adentrar esses lugares recônditos e a criar outros, nos ensina a retomar a poética do filosofar e a filosofia da poética e que o professor não é um capataz do conhecimento, mais um poeta e filosofo das palavras. Produzir é muito mais do que reproduzir, e a arte penetra poeticamente sem que possamos pressentir, tendo em vista a possibilidade de conduzir a experiência e o conhecimento sem medo de feridas a lugares escuros. Ele se vai, pois como diria Fernando Pessoa, “morrer é a curva da estrada”, mas ficará na eternidade dos seus pensamentos e ensinamentos. Adeus Benedito Nunes, Adeus Professor!
Paulo Thiago

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A FILOSOFIA E A VERDADE COMO MOMENTOS DE UMA HETERONOMIA EM EMMANUEL LEVINAS (em correção)


De fato, a enunciação filosófica cumpre em sua mais constitutiva vitalidade o labor que provém da busca incessante pela “verdade”, rememorada inefável como problema crucial de toda “aventura” da filosofia, esta “vontade de verdade” (no modo nietzschiano de sua apresentação), fora a promotora de tantas emancipações, como também, de suas mais abusivas desventuras.
Emmanuel Levinas em um breve, mas contundente ensaio intitulado “A filosofia e a idéia de infinito”, anuncia este permanente clamor da filosofia na procura pela verdade, mas ainda, extravagantes referencias e críticas infundadas, apontam a generalidade dos conceitos filosóficos como pobres e vazios, como apenas espectros do pensamento, ainda por cima, estes asnos do conhecimento, opinam que a filosofia não haveria nada a dizer, pois carece de qualquer utilidade prática, estes se enganam, a filosofia não constrói sua fisionomia como sombra de uma definição científica, ao contrário o ímpeto prático das ciências é devido ao Eros filosófico que nelas ainda, sobrevivem.
No entanto, verdade e filosofia são vistas em sua relação como desafiadoras ou perturbadoras, isso nos faz lembrar Karl Jarpers, na sua obra “Introdução ao pensamento filosófico” que diria: “a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz” (1965, p.138). A “paz” vigente que é perturbada, nada mais é que a mascara dos regimes hipócritas e violentos. Desse modo respira-se apenas o mundo onde a “luz” e o “fetichismo” da subjetividade moderna e a sua “educação técnica” habitam, o ameaçador espírito da anti-filosofia, enfraquece e reduz irrefletidamente a humanidade, conduz um choque diário de uma catástrofe, onde a identidade do Mesmo é arbitrária, reconhece o outro como constituinte de si e, no entanto, não tem pudores para denominar-se livre e poderoso. Nada mais que o caos da indiferença e o clamor do diferente em sua franqueza, pobre e faminto, aparecem como fenômenos desta “paz” abominável que habita a razão Ocidental. A filosofia, no entanto, faz, às vezes, neste contexto de uma subjetividade ativa o papel de anti-sala da anti-filosofia e apetece a violência e crueldade no modo da barbárie do esquecimento. Desse modo, Levinas estar atento a esta situação de crise e desconforto que habita com maior repercussão no ser-humano. Assim, nos interrogamos inicialmente, se a filosofia e a verdade, podem remeter a um quadro de esquecimento e indiferença pelo outro? Qual a busca da filosofia? E se é certo que ela remeta a uma transcendência, como a filosofia pode ser pensada do ponto de vista de uma heteronomia? Aonde estar o ser-humano em meio aos escombros da verdade obliterada do Ocidente? Se a Filosofia e a Ciência erguem-se sobre a possibilidade e validade do conhecimento verdadeiro, sobre a busca da objetividade, estes critérios vão manter os seus valores e modos na relação e no conhecimento com o outro?
1. A FILOSOFIA COMO AUTONOMIA
O terreno da criação filosófica e a colocação do sentido da verdade é nada mais que de uma história atroz de possuimento e determinação a partir de uma linguagem instituída pelo Eu narcísico. No entanto a filosofia nada mais seria do modo exposto por Levinas: “como uma conquista do ser pelo homem através da história”. A história do ego vitorioso, vigoroso e sanguinário de suas realizações. A ofensiva recai sobre o totalmente diferente de sua identidade, mas sem achar equívocos, o “outro” que a mim a parece põe a ser compreendido, logo é desfigurado pelo conceito, perde sua peculiaridade, para ser aquele que tem seu sentido próprio para existir como servil, para o eu, o outro é estranho e patético é ameaçador para o conjunto de sistemas e redes pessoais e egoístas, nesse sentido, a “alteridade do outro” ofende a enunciação da “primeira pessoa”. A via que a filosofia toma diante deste triunfo sobre o diverso assinala na concepção de autonomia, ou seja, comporta uma investigação livre a partir de um ser pensante, onde este não encontra qualquer restrição enquanto liberdade de investigação. Esta liberdade somente é aparente, ela se dá como uma negação do “outro”, a filosofia é colocação do plano do Mesmo e a partir dele reduz tudo que lhe opõe como Outro é uma marcha constante que não pode ameaçar parar, a busca da verdade como exercício da liberdade pode ser entendida como uma caminha pelo Mesmo. A liberdade do conhecimento pelo Mesmo é arbitraria, é não deixar trair-se pela estranheza de uma outra percepção, deve-se de forma imediata domesticar, desnudar o diverso em prol da conquista da verdade do ego libertador. Diria Levinas:
Só na posse o eu conclui a identificação do diverso. Possuir é manter a realidade desse outro que se possui, mas suspendendo precisamente a sua independência. Numa civilização refletida pela filosofia do Mesmo, a liberdade cumpre-se como riqueza. A razão que reduz o outro é uma apropriação e poder” (1900, p. 205).
No entanto, Levinas procura restituir o sentido da “subjetividade”, ancorado no horizonte de “transcendência” que ultrapassa o esquema egológico imanente do ocidente, reconduzindo o pensamento filosófico para um questionamento de suas implicações Éticas em face ao reconhecimento de uma alteridade ou uma “diferença” em que não se tenha a primazia do Mesmo sobre o Outro. A busca pela verdade deverá ser interrogada no seu cerne, travando uma construção para reformular e apontar a construção Ética diferente de uma estrutura do sujeito transcendental e isolada, que apenas fantasiou a verdade da Ética com seus ideais caóticos de comunismo.
No sentido da filosofia e da verdade tratadas no contato com a alteridade do outro, desconstruindo o mecanismo de redução do Outro pelo Mesmo, teremos a heteronomia, nesse ponto a verdade implica uma experiência distinta, um extrapolamento da própria experiência, não é uma simples exterioridade que se dar fora do experimentado, mas sobretudo no caminho de uma transcendência, uma realidade que estar para além da nossa natureza, assim, “a filosofia ocupar-se-ia do absolutamente diferente, seria a própria heteronomia”. Mas o que significa dizer que a filosofia comportaria em seu bojo como realidade outra, ou transcendência?
2. A FILOSOFIA COMO HETERONOMIA
O que constitui a transcendência levinasiana, não diz respeito a antiga denominação que viria comportar na metafísica clássica, do mais a transcendência da heteronomia filosófica possui muito mais do que uma espécie de confrontação com a noção de filosófica da autonomia do sujeito dominador, o acréscimo na idéia de heteronomia habita no contato com a idéia de infinito. Para Levinas a filosofia não deve ignorar tal perspectiva que habita no infinito a sua mais prolífica significação, é neste conceito a experiência do pensado extrapola o próprio pensado, e a subjetividade se comporta como passividade. Levinas acredita que a idéia de infinito é uma noção tão antiga e que se apresenta antes do poder de redução que a filosofia ocidental adotou ao longo de sua trajetória, cito Levinas: “é preciso dizer que a tradição do Outro não é necessariamente religiosa, que ela é filosófica”. (Idem, p.208). Do certo no mundo onde a violência de nossas necessidades nos impõe a conquistar um lugar no espaço a idéia de heteronomia parece até mesmo confusa e absurda, o infinito desejado extrapola a própria idéia, ou seja, o outro não aparece como propriedade de um ser que limita as suas possibilidades. O que diz respeito ao outro, é a capacidade de construir um futuro, de remeter a uma possibilidade que é diversa, a alteridade do infinito não pode ser abarcada no modo de um conceito, a linguagem da heteronomia reporta a comunicação a realizar um reconhecimento de seus preconceitos. Parece-nos que nela sobrevive a forma mais produtiva da criatividade e da elevação do Bem que nasce no contexto levinasiano do “rosto”. Desse modo estar no mundo não é apenas como um solitário que se angustia a espera da morte da qual é irremediável, a idéia de infinito liga-se a alteridade do “rosto”, do temível face-a-face, aonde a paz imperativa do sujeito desgasta para reconhecer sem intermediários, o outro que no entanto é mais pobre e mais forte do que “eu”. A relação da filosofia enquanto heteronomia encontra um ponto forte na concepção do rosto, o infinito, que é o outramente do ser, não pode receber as ordens de uma imposição moral, mas encontra-se lançada na revelação do rosto que me diz “não matarás”.


Paulo Thiago- 24/02/2011